A imagem da política (e dos políticos)
Pelo menos desde a fotografia de John F. Kennedy usada pela campanha presidencial vitoriosa de 1960, e analisada por Roland Barthes no ensaio clássico A Mensagem Fotográfica, de 1961, as imagens de políticos feitas por profissionais ajudam a ganhar e perder eleições e cargos. Longe de dizerem “mais do que mil palavras”, como atesta o equivocado dito popular, muitas vezes condensam na linguagem imagética características, atitudes e trajetórias que ajudam a contar o momento da pessoa e a política.
No Brasil não é diferente. Flávio Damm já mostrava na virada da década de 1950 para 1960 que Juscelino Kubitschek tinha asas para um governo (com erros e acertos) de 50 anos em cinco. Pouco depois, Erno Schneider apresentava ao público a falta de rumos de um Jânio Quadros cuja renúncia abriu caminho para a ditadura civil-militar que durou 21 anos e tem reflexos até hoje. Não por outro motivo, Wilton Júnior recebeu em 2012 o Prêmio Jornalístico Rei da Espanha pela foto em que um cadete da Academia Militar das Agulhas Negras parece transpassar com o florete a presidenta Dilma Rousseff. Do mesmo modo a imagem de José Serra, clicada por Diego Padgurschi em 2007, durante uma homenagem do então governador à Rota, a polícia que mais mata no Brasil, continua provando nosso fetiche estúpido pela militarização contra a violência.
As lentes de nossos fotógrafos da política, às vezes podem até ser meio proféticas, como João Bittar, falecido em 2011, flagrando em 1979 aquilo que décadas depois viria, talvez, a ser o centro do mundo para o ex-presidente Lula (detalhe: a fotografia ficou guardada por quase 30 anos, quando então passou a fazer todo sentido). Outro Lula, esse craque das imagens, o Marques, segue fazendo fotos icônicas tanto de seu xará da Silva (e de quebra o olhar de inveja do ex-presidente-sociólogo) quanto do principal personagem da cena política atual, Eduardo Cunha, com uma providencial mão de assessor ao fundo, como se fosse a sua própria, a abençoar o dinheiro que caía do céu.
Como fotógrafos documentais, nós também nos arriscamos de vez em quando a retratar os políticos e os momentos da política nacional. Quando o ex-senador e secretário de direitos humanos de São Paulo Eduardo Suplicy é agredido dentro de uma livraria com o nome de Cultura, achamos fundamental mostrar como é a sua receptividade entre os mais humildes moradores de rua da Crackolândia. E, também, lembrar de um tempo, 1989, em que os setores progressistas e de centro-esquerda estavam unidos contra a direita retrógrada, ao invés de tentarem usar os mais bizarros personagens de Brasília para garantir apenas seus projetos pessoais.